É de extrema importância o planejamento da gravidez, para evitar consequências psíquicas e físicas tanto para a mãe quanto para o bebê. Óbvio que muitos casos de gravidez não programada trazem felicitações indescritíveis para alguns, mas a importância do planejamento está na prevenção. Algumas mulheres, ao decidir por engravidar, preparam-se indo a consulta com o gineco-obstetra e são orientadas a tomar com antecedência de 1 mês, o ácido fólico. Mas em muitos casos, quando a mulher descobre a gravidez, já a ocorreu a formação do tubo neural, então não adianta querer exagerar na dose. Independente de uma excelente alimentação, faz-se necessário o uso do ácido fólico conforme prescrição médica.
O ácido fólico é uma vitamina do complexo B (B9) e pode ser encontrado em alimentos como cenoura, espinafre, fígado, vegetais de folha verde-escura, gema de ovo, aspargo, brócolis, tomate, almeirão, rúcula, couve, abóbora, chicória, agrião, grãos, caju e principalmente as frutas cítricas, os mais ácidos possuem maiores teores da vitamina. Mesmo o alimento sendo rico na vitamina, sua porcentagem é reduzida devido ao cozimento que reduz sua ação.
Objetivo do Ácido Fólico é prevenir mal formação do tubo neural durante os primeiros meses de formação do feto.
"O ácido fólico tem um papel fundamental no processo da multiplicação celular, sendo, portanto, imprescindível durante a gravidez. O folato interfere com o aumento dos eritócitos, o alargamento do útero e o crescimento da placenta e do feto." (Scholl, T.O.; Johnson, W.G. Folic acid: influence on the outcome of pregnancy. Am J Clin Nutr 2000; 71(5 Suppl):1295S-303S.)
Uso de ácido fólico preconizado pela Organização Mundial da Saúde é de 0,40g% ao dia, ou seja, 0,4 mg ao dia de ácido fólico no primeiro trimestre da gestação. Caso a gestante, tenha histórico de filhos com alterações na formação do tubo neural, merecem atenção redobrada e a prescrição será diferenciada.
Formação do tubo neural
O tubo neural é a estrutura embrionária que dará origem ao cérebro e à medula espinhal
Período embrionário: Vai da 3ª semana até o 2º mês.
Neste período ocorrem:
a) Gastrulação: formação de camadas germinativas
b) Neurulação: formação do tubo neural
c) Formação da notocorda
d) Desenvolvimento do celoma intra-embrionário
e) Desenvolvimento dos somitos
f) Desenvolvimento do sistema cardiovascular primitivo
g) Desenvolvimento das vilosidades coriônicas terciárias
Neurulação – nesta fase ocorre o surgimento do tubo neural, da notocorda, do mesoderma intra-embrionário e do celoma. Para a formação do tubo neural, as células da ectoderme presentes na porção mediana da região dorsal, ao longo de todo o embrião, sofrem um achatamento, constituindo a placa neural. Posteriormente, a placa neural invagina-se, formando o sulco neural, que se aprofunda e funde os seus bordos, constituindo o tubo neural, responsável pela formação do sistema nervoso do embrião.
Na falta do ácido fólico, o tubo neural pode não se fechar completamente, causando alterações como anencefalia, quando o bebê nasce com uma pequena parte ou mesmo com ausência de cérebro levando a morte poucos dias depois do nascimento, ou espinha bífida, que é a exposição da medula espinhal e que deixa sequelas de graus variados.
Anencefalia consiste em malformação rara do tubo neural acontecida entre o 16° e o 26° dia de gestação, caracterizada pela ausência parcial do encéfalo e da calota craniana, proveniente de defeito de fechamento do tubo neural durante a formação embrionária. Estas gestações em geral resultam em aborto e aqueles nascidos vivos morrem poucas horas, ou dias, após o parto. No Brasil, desde abril deste ano de 2012 o aborto de bebês anencéfalos foi descriminalizado, e pode ser feito com assistência médica na rede de saúde. Contudo, cabe à mulher decidir se prossegue ou não com a gestação.
E ainda, espinha bífida que ocorre quando a extremidade inferior do tubo neural não se fecha, causando danos medulares significativos. Apesar da possível correção cirúrgica, a lesão nervosa é permanente e resulta em níveis diversos de paralisia dos membros inferiores, bexiga e intestino. Além do comprometimento físico, a maior parte dos indivíduos afetados também apresenta dificuldade de aprendizado.
Leia o artigo: Efeito da fortificação com ácido fólico na redução dos defeitos do tubo neural por Leonor Maria Pacheco Santos e Michelle Zanon Pereira
A dose preconizada para esta prevenção é de 400 microgramas por dia, no período de pelo menos 3 meses antes da gravidez.
Uma dose que será mantida no início da gestação, o problema é que hoje em dias muitos alimentos são fortificados com o ácido fólico e neste caso há um risco das mulheres virem a receber uma dose exagerada da vitamina. Esta questão polêmica foi respondida por um estudo americano realizado na Carolina do Norte que objetivou avaliar a proporção de mulheres que tomam ácido fólico (AF) em doses superiores ao recomendado. Para isso eles entrevistaram mais de 500 gestantes para obter dados sobre padrão nutricional ante e durante a gravidez. A boa notícia é que antes da gravidez, metade das mulheres fez a suplementação de ácido fólico. Na gestação, este número sobre para 2 em cada 3 mulheres. Porém, antes e durante a gravidez, 11% das mulheres excederam a dose máxima de 1000 mg/dia. Em geral, este hábito foi mais frequente nas mulheres da etnia brancas. Embora o estudo tenha sido conduzido nos Estados Unidos ele levanta tema interessante para todas as gestantes, que nem sempre tem um controle apurado da ingestão alimentar. Isso possivelmente se aplica às gestantes brasileiras. Para os autores é recomendado monitorizar os níveis de ácido fólico no organismo e nas dietas das gestantes. A questão subseqüente é sobre os eventuais efeitos do excesso de ácido fólico sobre o futuro bebê. Alguns estudos estão em andamento para identificar possíveis efeitos genéticos e não-genotóxicos destas doses elevadas. Mas não se pode garantir que a suplementação de ácido fólico seja inócua, apenas porque se trata de uma vitamina. Vitamina, em excesso e sem indicação, também pode fazer mal. É aquela velha história de que uma coisa boa, quando em excesso, pode se tornar ruim. (Hoyo et al. Folic acid supplementation before and during pregnancy in the Newborn Epigenetics STudy (NEST). BMC Public Health 2011,11(1):46).
Fonte: Blog do Dr. Alexandre Faisal
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