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domingo, 26 de fevereiro de 2012

Carlos Drummond de Andrade: Definitivo Definitivo, como tudo o que é...




Definitivo

Definitivo, como tudo o que é simples. 

Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. 

Sofremos por quê? 

Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. 

Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. 

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. 

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. 

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. 

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. 

Por que sofremos tanto por amor? 

O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma  pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez  companhia por um tempo razoável,um tempo feliz. 

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: 

Se iludindo menos e vivendo mais!!! 

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento,perdemos também a felicidade. 

A dor é inevitável. 

O sofrimento é opcional...


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Poesia: Traduzir-se (Ferreira Gullar)




Traduzir-se

Uma parte de mim é todo mundo,
outra parte é ninguém, fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão,
outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim pesa e pondera,
outra parte delira.
Uma parte de mim almoça e janta,
outra parte se espanta.
Uma parte de mim é permanente,
outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem,
outra parte linguagem.
Traduzir uma parte na outra parte
que é questão de vida e morte.
Será arte? Será arte?

Ferreira Gullar

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A Canoa (Paulo Freire)



A canoa

Em um largo rio, de difícil travessia, havia um barqueiro que atravessava as pessoas de um lado para o outro. Em uma das viagens, iam um advogado e uma professora. 

Como quem gosta de falar muito, o advogado pergunta ao barqueiro: 
- Companheiro, você entende de leis?

Não. - Responde o barqueiro.

E o advogado compadecido: É pena, você perdeu metade da vida!

A professora muito social entra na conversa:
-Seu barqueiro, você sabe ler e escrever?

Também não. - Responde o remador.

Que pena! - Condói-se a mestra - Você perdeu metade da vida!

Nisso chega uma onda bastante forte e vira o barco.

O canoeiro preocupado pergunta: Vocês sabem nadar?

Não! - Responderam eles rapidamente.

Então é uma pena - Conclui o barqueiro - Vocês perderam toda a vida!

Não há saber mais ou saber menos, há saberes diferentes.

Paulo Freire

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